Rap reformado, pra mim, é mais do que um estilo — é um chamado. Quando eu olho para esse movimento, vejo como Deus usou lá fora irmãos como Shai Linne, Timothy Brindle, Trip Lee e tantos outros para unir teologia profunda com a linguagem do rap. Eles mostraram que é possível rimar doutrina, expor Escritura, ensinar verdades densas e ao mesmo tempo alcançar pessoas que talvez nunca abririam um tratado teológico. Esse som carregado de Bíblia e convicção reformada sempre me marcou porque ele não trata apenas de ritmo ou flow, mas de conteúdo. É rap que não foge dos temas pesados da fé: depravação total, graça soberana, justificação, expiação, perseverança. É rap que prega.
Com o tempo, percebi que Deus estava levantando algo parecido no Brasil. E foi aí que meu ministério, o Rima Teológica, nasceu: como uma resposta ao desejo de fazer música que glorifica a Deus com fidelidade doutrinária e intensidade artística. Cada rima que escrevo é uma forma de expor a Palavra, pegar conceitos que muita gente só vê nos livros e colocá-los sobre um beat, de um jeito que impacta, confronta, consola e edifica. Eu sempre vi a rima como instrumento de ensino. Quando começo um verso falando de justificação, ou quando trago os Solas no refrão, não é estética — é ministério.
E não caminho sozinho. Dentro do Concilio Hip Hop, nossa banca de Rap/HipHop Cristão, vejo essa visão se multiplicando. Irmãos como 95 Versos, Kami Kam, D’Raiz, Huguenote MC’s, Rodrigo D’Cristo, Yann Dias — cada um com seu estilo, seu flow, sua vivência — todos unidos pela mesma convicção: usar o rap como ponte entre a fé reformada e a cultura urbana. A gente entende que o rap é uma ferramenta poderosa pra falar de Cristo com profundidade, sem diluir a verdade, sem abrir mão da doutrina e sem transformar o evangelho em slogan vazio.
Eu testemunho isso não só como artista, mas como pregador/pastor. Muitas pessoas que nunca me ouviriam num sermão acabam me ouvindo numa faixa. E ali, no meio do beat, o Espírito age. A Palavra faz aquilo que sempre fez: ilumina, transforma, confronta. E ao mesmo tempo, o rap reformado corrige distorções que infelizmente se tornaram comuns, como o foco excessivo em emoção sem conteúdo, ou mensagens centradas no homem. Nesse movimento, a centralidade é Cristo. A autoridade é a Escritura. A glória é totalmente de Deus.
Quando eu penso no que é fazer rap reformado no Brasil hoje, vejo um privilégio. Vejo um modo de servir a igreja, alcançar a juventude, equipar crentes, ensinar doutrina e testemunhar da graça de Deus usando a linguagem que moldou a minha geração. No fim, tudo isso — Rima Teológica, o som do Concilio, cada verso que escrevo — é só uma forma de ecoar aquilo que a Reforma sempre declarou: a verdade importa, Cristo reina, a Palavra é suficiente, e até a rima existe para a glória de Deus.
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